Psicologia infantil – As crianças devem utilizar dispositivos eletrônicos?

As tecnologias vieram para nos auxiliar em muitos aspectos na nossa vida profissional e pessoal. Porém, tudo que é bom, temos a tendência de querer mais e, se tivermos consciência e maturidade, colocamos limites em nós mesmos para não nos prejudicar. Essa responsabilidade se torna ainda maior quando há reflexos na relação familiar, especialmente na nossa interação com os filhos. A verdade é que se não nos disciplinarmos para usarmos as tecnologias com equilíbrio, ao menos à vista das crianças, jamais iremos conseguir disciplinar e educar as crianças para o seu uso.

Mas vou direto ao ponto. As crianças não devem ser proibidas de usar os dispositivos eletrônicos, mesmo porque existem desenhos e jogos educativos que estimulam o desenvolvimento emocional e cognitivo. Porém, é necessário colocar limites para o seu uso, determinando horários para assistir à TV ou usar o tablet e o celular. Eu recomendo que se faça isso logo após alguma atividade que está dentro da rotina, como 40 minutos após o almoço ou após o banho ou assim que terminar os deveres da escola.

É muito importante que os pais também estimulem outras atividades como brincadeiras ao ar livre, de faz de conta e jogos de cartas ou tabuleiro. Frequentemente, ouço alguns pais dizendo que estimulam “falando” para as crianças desligarem a TV ou o celular e irem brincar com outras coisas, mas que elas só querem saber disso. Nós não devemos só falar, nós devemos fazer. Primeiro, limitando o seu uso, combinando com as crianças novas regras. Não se surpreenda se, inicialmente, elas não gostarem e se revoltarem. Segundo, deixando um pouco o que estamos fazendo para fazer outra atividade com elas, despertando o interesse nas crianças. Logicamente, pode ser que você não possa fazer isso todos os dias, mas é importante que os filhos descubram novas formas de brincar através de modelos, seja com os pais ou com os amigos. Inclusive, essa é uma proposta excelente para interagir com as crianças e fortalecer vínculos. Que tal fazer com o seu filho uma listinha de ideias de atividades que ele pode fazer quando não estiver usando os eletrônicos? Mas, essa lista precisa ser por escrito, colocada em um lugar bem visível, dando abertura para se acrescentar outras ideias conforme elas vão surgindo. Assim, quando não souberem mais o que fazer, recorram à lista.

Mas, voltando aos eletrônicos… Alguns jogos e programas são intermináveis. É preciso haver um propósito. Filmes apropriados à idade, e cabe aqui reforçar que não incentivem à violência ou à sexualidade precoce, e jogos educativos que estimulem o raciocínio e criatividade são uma boa opção. E claro, se nós pudermos incentivar nossos filhos a fazer pesquisas e aumentar seu nível de conhecimentos e cultura, certamente não estaremos errando.

É sempre bom lembrar que a socialização é muito importante para o desenvolvimento das crianças. Estar junto com outras crianças ensina muito. Os eletrônicos não devem substituir os encontros que acontecem na vida real e que oferecem ricas experiências de compartilhar, de resolver conflitos, de expressar afeto e generosidade.

Vale aqui responder uma última questão que é dúvida frequente dos pais. Qual é a idade recomendada para começar a usar os dispositivos eletrônicos? É preciso usar o bom senso. Penso que, na prática, a TV e os jogos educativos quando utilizados com propósito, moderação e supervisão podem ser usados desde cedo. Após os 6 ou 7 anos, as crianças devem utilizar com supervisão dos adultos, o que inclui usar esses dispositivos no mesmo ambiente que os pais ou responsáveis estão e ter aplicativos para bloquear conteúdos impróprios. Acima de tudo, é importante avaliar o grau de maturidade que seu filho possui, pois, às vezes, uma criança de 9 anos é mais madura do que uma de 12 anos. Uma outra questão é fazer seu filho refletir sobre a função de começar a usar o celular fora de casa, pois muitas vezes, o que pode estar pesando é o fato dos outros terem e ele não ter e, se esse for o caso, é importante que você o oriente e se posicione.

Lembre-se que você tem o direito e a obrigação de dizer não aos seus filhos. Assuma essa tarefa que é sua e a curto prazo seu filho mostrará um comportamento mais responsável para fazer suas escolhas.

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