Quando observamos uma criança que frequentemente age de forma agressiva, é comum a ideia de que ela tem algum problema, que isso é traço de sua personalidade ou algum desvio de caráter. A tendência é olhar para algo dentro dela. Mas é muito importante pararmos para analisar o contexto que a criança vive. Frequentemente o meio pode estar favorecendo o desenvolvimento do comportamento agressivo e também sua manutenção, pois geralmente a criança apresenta “ganhos” em agir dessa maneira.
Algumas atitudes dos pais, professores ou cuidadores podem reforçar a conduta agressiva. O aprendizado passa pelas experiências e também pela observação. Como a criança está em formação, é comum passar a reproduzir tudo o que vê ou experimenta, principalmente quando isso vem dos pais ou pessoas que são referências para ela. Crianças que observam na família reações de agressividade, sejam físicas ou verbais, tendem a reproduzir essas atitudes, pois é a maneira que elas estão aprendendo a solucionar os problemas.
O comportamento agressivo pode se desenvolver quando a criança quer alguma coisa e não é atendida ou algo não ocorre da forma como deseja. Então, ela pode ver a chance de conseguir o que quer através da agressividade. Se consegue, ela persiste nesse comportamento, entrando num círculo vicioso. A consequência imediata de ter o que quer e acreditar que “se impõe” perante às pessoas faz com que ela se sinta “poderosa”. Mas, em pouco tempo, isso também pode provocar o afastamento de outras crianças e deixá-la mais sujeita às punições, o que só agrava ainda mais a agressividade.
Pais que incentivam a criança a bater no colega como forma de revidar também estão desfavorecendo o desenvolvimento das habilidades sociais. Bater na criança quando ela age de forma agressiva também não é o caminho, pois servimos como modelo para ela se comportar assim. Na hora da explosão, a pior atitude é o enfrentamento. Logicamente, é importante verificar se a criança não está oferecendo riscos para os outros ou para ela mesma, pois assim ela deverá ser contida e retirada do local.
Uma outra questão importante é a supervisão de jogos ou filmes que estimulam à violência. É verdade que assistir esses conteúdos pode não levar ao comportamento agressivo em si, mas para uma criança que já possui essa tendência, certamente não é nada favorável.
Mas, tão importante quanto saber agir no momento da fúria é saber ensinar à criança estratégias de autocontrole e treino de repertórios sociais em situações difíceis. Assim ela terá alternativas previamente programadas para saber como agir. É verdade que isso não é tarefa fácil e não se consegue da noite para o dia, mas o caminho é levar a criança à reflexão através do diálogo constante. Lembre-se que, para ela, só existe uma alternativa que é agredir e nós temos que apresentá-la outras formas de resolução de problemas, pois essa não está dando certo. Então, vamos para algumas dicas:
– Ter empatia ao sentimento dela. Diga: “eu também acho muito ruim perder num jogo, todo mundo quer ganhar, mas mesmo sentindo raiva nós podemos escolher outro comportamento”. Ou seja, ensine a criança que sentir raiva é humano e não é errado, mas a violência sim e ela pode ser substituída por outros comportamentos.
– Combinar com a criança um “cantinho da raiva”. Pode ser no seu próprio quarto. Quando estiver se sentindo com raiva, pode ir para esse lugar e descarregar toda a sua raiva. Deixe almofadas em volta para que ela possa bater. Comprar um boneco inflável, como o “João Bobo”, e deixar no quarto também é uma boa opção. Depois, ensine a criança a abrir as janelas do quarto, simbolizando a saída da raiva.
– Contar até 10, 20… respirar. Dar uma volta e focar em outros interesses.
– Organizar com a criança regras básicas de boa convivência em casa. Não será permitido bater, xingar ou empurrar como modos de “aliviar a raiva”. Estabeleça consequências imediatas. Bateu no irmão? Irá se desculpar na mesma hora e cuidar do irmão machucado (cuidar, fazer curativo ou colocar gelo). Continuam brigando? Deverão brincar sozinhos já que não conseguem brincar bem juntos. Tudo o que é combinado é justo!
– Ensinar à criança a esperar, não atendendo no mesmo momento o que ela quer. Provocar situações de espera e ir aumentando gradualmente esse tempo.
– Ensine-a a dizer o que quer, usando tom de voz adequado, destacando as palavras mágicas (por favor, obrigado, etc). Quando ela agir de forma adequada para pedir alguma coisa, mostre a sua satisfação e valorize a sua atitude. Ensine-a estratégias de resolução de problemas. Simule situações diárias: “O que você poderia fazer se um colega começasse a lhe provocar?”. Opções: ignorar, sair de perto, pedir a ele que pare, expressar que você não quer brigar, caso não pare avisar a professora, etc. Faça uma listinha por escrito com a criança e incentive-a a aplicar uma dessas estratégias e depois avaliar os resultados. Mas, atenção! Diga a ela para persistir alguns dias na tática escolhida.
– Valorizar comportamentos socialmente aceitos como ser gentil, compartilhar e ceder. Enfim, é preciso expressar à criança quando ela acerta e vibrar muito com isso!
O trabalho deve ser diário e persistente, com muita coerência e consistência de conduta. Principalmente, é preciso “ganhar” a criança com diálogo baseado no respeito e no afeto. Caso você sinta que a criança ainda não dá sinais de melhora, procure uma avaliação psicológica.